quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Cada vez mais louca, Lisbela anda pela cidade, alucinada já não consegue entender o que anda fazendo. Totalmente sem rumo, percorre ruas e mais ruas a procura de algo que não sabe muito bem o que é. Vira cada esquina como se fosse encontrar a resposta para a vida ou ao menos achar algo que a faça sobreviver até o próximo dia.
Cada vez mais louca, Lisbela agora só se sente protegida ao lado dele. Como se aquele menino de corpo magro e traços de homem a pudesse salvar do mundo. Quando não está por perto, ela sente seu mundo desabar, como se ele fosse o prego, aonde o balão ela mesma está presa. E se o prego desaparecer, ela voa... Não que ela tenha medo de voar, mas sim de desaparecer.
Cada vez mais louca, Lisbela só se sente a vontade com poucos amigos. Não tem paciência para mais ninguém. Só aqueles bem íntimos mesmo, os seus companheiros de mil anos. Lisbela faz uso de ironia e deboche para tentar se salvar das conversas chatas, imaturas e sem noção das pessoas. Ela anda se perguntando o que esta acontecendo com o mundo, com as pessoas, com o tempo? Cadê meu tempo? - se pergunta.
Os dias estão passando rápido demais e ela mal os percebe.
Cada vez mais louca, Lisbela tem vontade de sumir e se dar por desaparecida. Carregar alguns livros e mudas de roupas e sua máquina e sumir para algum lugar distante e paradisíaco.

Cada vez mais louca, Lisbela cansa da vida e se deita depois de outro curto e cansativo dia.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mineira do Coração Baiano

Eu poderia pegar o telefone, discar seu número, e cortar esse abismo territorial que nos separa só pra ouvir a sua voz dizendo que está bem. Mas fazer isso é muito cafona. E eu não consigo. Mas como suportar essa vontade de você? Ouvir a sua voz seria um lenitivo pra tamanha ansiedade e lacuna. Eu sinto falta das suas mensagens. Eram muitas, em todos os horários possíveis, falando tudo e falando nada, dando bom dia e boa noite. Conforme o tempo foi passando, elas foram diminuindo e hoje o celular é só um aparelho inútil que recebe mensagens de promoções da operadora. Quando soa o barulhinho de recebimento de torpedo adivinha quem vem na minha mente? Abro o visor, ansioso, e é um convite pra ir pro bar. Pra ir pra casa de não sei quem com não sei quem porque não sei quem vai fazer aniversário na casa de não sei quem e todo mundo vira "não sei quem" por que o único nome que eu queria ver depois do "De:" era o seu e só o seu. Cidade triste, vazia. A mais populosa cidade está vazia, pra mim. Ninguém me apetece, me convém, me convence. A cidade está cinza e as nuvens não tem clemência. Os pássaros estão melancólicos e os gatos atravessam a rua ignorando tudo, seguindo seu misterioso percurso. Continuo querendo o seu cheiro, sua tagarelice, seus assuntos profundos e seus assuntos com profundidade de frigideira. Quero de volta aquele domingo que a segunda-feira roubou. Quero de novo a ressaca, você passeando sem roupa pelo quarto, acendendo o cigarro com gestos graciosos, falando de política enquanto torço seus mamilos e quero mais. Mais de você, mais você, mais caos e desordem, mais ordem no caos, mais desordem na ordem desordenada da profusão de caos hormonal que você instila e inspira e me faz querer te consumir até a outra encarnação; querer segurar a sua mão e atravessar tempestades, campos de girassóis, pular em nuvens, sambar em gêiseres, transar em corredeiras, mergulhar em rios de lava com piranhas de três olhos, voar, extraviar bagagens, vender drogas, beber cerveja chilena, passar o Natal no Afeganistão; sim, coisas aleatórias, sem sentido, abstratas, que ao seu lado ficariam lineares, carregadas de sentido e de simplicidade e de magia.
Mas eu não tenho coragem nem de pegar o telefone e perguntar como você está. Apenas duas palavras que você proferisse me tirariam essa insônia. É mais fácil pegar o papel e a caneta e me perder escrevendo cinco mil delas a tentar me encontrar com apenas duas advindas dos seus lábios cheios de batom vermelho.

She Wants Revenge - Hundred Kisses