segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mineira do Coração Baiano

Eu poderia pegar o telefone, discar seu número, e cortar esse abismo territorial que nos separa só pra ouvir a sua voz dizendo que está bem. Mas fazer isso é muito cafona. E eu não consigo. Mas como suportar essa vontade de você? Ouvir a sua voz seria um lenitivo pra tamanha ansiedade e lacuna. Eu sinto falta das suas mensagens. Eram muitas, em todos os horários possíveis, falando tudo e falando nada, dando bom dia e boa noite. Conforme o tempo foi passando, elas foram diminuindo e hoje o celular é só um aparelho inútil que recebe mensagens de promoções da operadora. Quando soa o barulhinho de recebimento de torpedo adivinha quem vem na minha mente? Abro o visor, ansioso, e é um convite pra ir pro bar. Pra ir pra casa de não sei quem com não sei quem porque não sei quem vai fazer aniversário na casa de não sei quem e todo mundo vira "não sei quem" por que o único nome que eu queria ver depois do "De:" era o seu e só o seu. Cidade triste, vazia. A mais populosa cidade está vazia, pra mim. Ninguém me apetece, me convém, me convence. A cidade está cinza e as nuvens não tem clemência. Os pássaros estão melancólicos e os gatos atravessam a rua ignorando tudo, seguindo seu misterioso percurso. Continuo querendo o seu cheiro, sua tagarelice, seus assuntos profundos e seus assuntos com profundidade de frigideira. Quero de volta aquele domingo que a segunda-feira roubou. Quero de novo a ressaca, você passeando sem roupa pelo quarto, acendendo o cigarro com gestos graciosos, falando de política enquanto torço seus mamilos e quero mais. Mais de você, mais você, mais caos e desordem, mais ordem no caos, mais desordem na ordem desordenada da profusão de caos hormonal que você instila e inspira e me faz querer te consumir até a outra encarnação; querer segurar a sua mão e atravessar tempestades, campos de girassóis, pular em nuvens, sambar em gêiseres, transar em corredeiras, mergulhar em rios de lava com piranhas de três olhos, voar, extraviar bagagens, vender drogas, beber cerveja chilena, passar o Natal no Afeganistão; sim, coisas aleatórias, sem sentido, abstratas, que ao seu lado ficariam lineares, carregadas de sentido e de simplicidade e de magia.
Mas eu não tenho coragem nem de pegar o telefone e perguntar como você está. Apenas duas palavras que você proferisse me tirariam essa insônia. É mais fácil pegar o papel e a caneta e me perder escrevendo cinco mil delas a tentar me encontrar com apenas duas advindas dos seus lábios cheios de batom vermelho.

She Wants Revenge - Hundred Kisses

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